segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Os Fragmentados

eles dizem ser revolucionários do anti-capital, mas a modernidade lhes subiu à cabeça.  são eles os fragmentados - conjugação masculina, pois ali não necessita distinção de gênero. a lógica que predomina nesse espaço é a masculina, o modus operandi é o modo capitalista, aquele no qual os homens viraram especialistas: produção, objetividade, prática, frieza, separação do trabalho da vida pessoal, indiferença à dor, etc, etc, etc. porque fragmentados? eles fragmentam tudo. como fábricas que dividem a produção das mercadorias em setores, esteiras e especialistas. são dois grupos da chamada "militância", fazem reuniões toda semana, trocam e-mails, ligações e são compostos PELAS MESMAS PESSOAS, mas teimam em se dividir, criar dois grupos, duas burocracias, 2 logísticas, 2 pautas. ou seja, são o mesmo grupo humano, mas fazem questão de se dividir, pura formalidade com discurso de organização, mas pra mim não passam de uma piada. em pelo século XXI, na era da pós-modernidade, eles falam em luta de classes e separam o pessoal do político. pelo amor de deeeeus, eles separam o pessoal do político e ainda falam em revoluçããão! porque são o quê? fra-g-men-ta-dos. parecem um corpo vivo, separado em partes, ambulante, uma anomalia, uma coisa horrível! olhos pendurados na cabeça, braço na orelha, perna no meio do tronco, órgão genital (vixe, esse é o que mais sofre!) embaixo dos pés, mãos saindo pelas nádegas. um corpo doente, falando asneiras, mas tentando acertar. lógico que eles tentam acertar, ninguém duvida disso, mas não são muito inteligentes porque deixaram a modernidade lhes subir à cabeça. coisa da sociedade industrializada, a mente cartesiana, coisificada, aquela que diz que os sentidos não apreendem a realidade e que só o pensamento é capaz disso. se esforçam muito, mas não têm êxito, nada dá certo, a fragmentação do corpo diminui sua força vital -  um corpo desafetivo. todo médico que trata o corpo como um amontoado de órgãos não consegue curar. e aí ficam nesse joguinho patético de falar, falar, falar e discutir na praça do derby todo domingo, hahahah! eles são risíveis, não fazem outra coisa a não ser discutir naquela praça ridícula todo fim de semana, com a sensação de que estão fazendo alguma coisa útil, hahahaha, que engraçado, hahahahah! eles me matam de vergonha, hahahahah 

(texto escrito no começo de 2011)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

facool

às vezes, quando eu paro pra pensar nessa minha vida de universitária, eu lembro de quando eu era criança, na escola, e a professorinha entregava um texto pra gente ler. a maioria lia, mas eu ficava viajando, olhando pra parede até o sinal tocar. é exatamente assim que acontece na faculdade. os professores mandam os textos, mas eu insisto em pensar em outras coisas. a diferença é que, hoje, são essas outras coisas que me fazem querer continuar na faculdade.


(fragmento encontrado no meio de rascunhos com a data de 31/09/2009. para comemorar o fim da minha faculdade e a paixão pelo tema da educação)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

cordel pós-literário

ô, minino danado
tu não percebeu, tu tá errado 
política e felicidade não se separam
mulher e cotidiano não são dissociados 

abaixo as bonequinhas de porcelana  
a quem se ama 
e se come
no fim de semana

já dizia marx 
eu sou um sujeito histórico
não sou escape, com quem “se bate” 
por mensagem

o mal dos homens é não acreditar 
no potencial avassalador
de uma mulher bonita, inteligente e cheia de humor 
será que você se sente superior?

amor, sexo, paixão 
cerveja, faculdade, busão
anarquismo, música, viagem 
filosofia, faculdade, filmagem 

tá tudo junto, misturado 
cotidiano e abraço apertado
e não me venha com declaração 
de que sentimento é instituição 

afinal, ela não é uma casca 
uma árvore milenar também tem essência
por mais que ela só goste 
de quem sabe discutir a estética da existência
 
mas nem por isso 
ela descartou o surf bolado
mas apostou no teor elaborado 
de um suposto discurso libertário

camarada, não se deixa a donzela na parada 
e se vira as costas para a madrugada
como quem deixou dinheiro 
e se esquece de dar um cheiro
  
não se brinca com o povo 
demonstrando nem um pouco
de alegria com a condessa 
pois ela tem língua, sorriso e proeza 

ô, meu chapa, a vida não é assim 
tu nem queria escutar meu assunto
e nessa relação, é aí onde eu me pergunto 
até que ponto vc gostava mais de você do que de mim?

estava deslumbrado 
com a falta de certeza
se encantou com o mundo que havia criado 
mas tudo acontecera dentro da sua cabeça




(baseado num discurso oficial de teor duvidável)

terça-feira, 5 de julho de 2011

potlatch - guerra de presentes

"Tu és chama e eu mariposa, e à ti inclino-me de modo inexorável; por vezes sou libélula e tu és lâmpada, que deixa-me desnorteado. As duas das mais brilhantes estrelas que iluminam o céu desta noite fria – que como companhia deixa-me apenas um conhaque barato – teriam vergonha em reluzir ao lado dos teus olhos. E não duvides se eu disser que tais elogios corariam a face da mais bela dama deste maldito planeta, que nos oferta a roda-viva do baile de máscaras da mercadoria."

---X---

outra vez em alguns dias, suas poucas frases ricas de significado e beleza me retiram por um punhado de segundos de uma noite vazia e sem cor e me colocam no terreno do alumbramento, trazendo-me um momento pequeno e intenso de catarse, tal como sentiria um apreciador europeu de arte do século XV diante de um quadro renascentista.

obrigada. parece até que você sabia que eu estava precisando. mergulhada num tédio típico de estudante pouco disciplinada que tenta alcançar - com a mesma ou maior dignidade do que aqueles que se dizem e se fazem bem-sucedidos - o seu lugar ao sol e possuir um papel na mão chamado diploma para satisfazer essa sociedade triste e troncha que faz até dos improdutivos cientistas sociais uma mercadoria.

o primeiro endereço que vc me mandou (antes do oficial, mas não por isso menos real) me deixou alguns minutos na frente do computador, apreciando a beleza e a exatidão daquelas frases - é incrível como elas fazem parte de vc! mostrei a alguns amigos e contei quem era o autor, de onde vinha, e eles acharam muito bom. está registrado aqui, ao lado do seu endereço oficial - e não mais real.

assim como suas doces e firmes palavras escritas naquela carta depois do carnaval. tão bonita e sincera. não fui capaz de respondê-la, muito porque a objetividade sempre me sobe à cabeça e não conseguiria ser competente à sua altura, ou porque fui um tanto displicente com a causa - o que não me dá orgulho -, ou as duas coisas.

tenho um coração dolorido de moça apaixonável demais que não sabe se cuidar. mas vez ou outra lembro-me de vc, de suas elaborações crítico-niilistas, de seu sotaque cearense terno e ingênuo, de seu carinho por mim. lembro de vc com carinho também, moço humilde, porém um dos meus intelectuais preferidos.

não espere, nunca, por mim, moço. talvez eu tenha procurado os homens menos merecedores do meu amor. o que não empobrece o encantamento que um dia eu criei por vc e que me move, agora, nessa prosa pretensamente poética.

um abraço em vc, meu vagabundo terno, pensador querido. vida longa às suas ideias! nunca sucumba. ponha energia e luz em seu corpo e não se sinta frágil. não se renda à frieza da guerra cinza que acontece lá fora. abra suas janelas e veja o sol colorido que nos dá a chance diária de sorrir.

obrigada por suas palavras românticas.

a Pedro.

terça-feira, 14 de junho de 2011

hoje eu acordei e dei bom dia a deus

ao abrir os olhos e me dar conta de emoções, de pessoas, dos desafios que o dia me aguardava, aqueles desafios instigantes, enriquecedores, que nos fazem sentir fortes e capazes de crescer. o universo é cheio de órbitas, iguais àquelas do sistema solar que a gente aprende no colégio. quando a gente vivencia alguns picos de felicidade, a gente alcança uma das mais especiais. e quando a gente vivencia a felicidade por conta de sentimentos de amor, de partilha, de honestidade, aí... alcançamos a mais especial das órbitas! e todos aqueles que estão sentindo isso também estão lá, conectados a ela. esta é a órbita mais perto de deus. e foi essa conexão que me fascinou. eu sabia que estava perto de deus. sabe-se lá quem é deus! não me interessa! ele pode ser um cachorro, um espírito ou um diabo. mas ele existe e me respondeu: bom dia, sua danada.

domingo, 5 de dezembro de 2010

até a revolução, beibe

chegou a hora, moço
de dizer
adeus você
espero que você seja feliz
que você viva o que tem de viver

que surja o reino da paz
e que eu siga
como estava seguindo
minha estrada

estava viajando (sempre estou)
só parei um pouquinho
encontrei um rapaz bonito no caminho

cumprimentei-o, trocamos estórias, sorrimos
e eu volto à caminhada
o mundo me aguarda

e que nossa história fique na lembrança
com carinho
será o nosso segredinho

que você se lembre dos nossos passeios
de bike, de bus, de reboque e de carro
nossas descobertas
nossas discussões políticas
nossas piadas internas
e alguns abraços nas esquinas

nossos corpos juntos

calor, cheiro, beijo, desejo
meu deus, que desejo

foi divertido
avassalador
e impulsivo

que fique na memória
a história
incompleta, concreta e complexa
do primeiro e único romance da pós-modernidade
entre dois subcomandantes

adeus, companheiro,
bom e velho militante

de sua amante
um beijo

terça-feira, 25 de maio de 2010

correspondência

ai, cacá... tenho estado tão séria, minha amiga. o mundo fez isso comigo, moça. há um tempo que não dou gargalhadas. desde que cheguei aqui na capital que a vida me ferrou, pra não dizer o trânsito e as provas da faculdade. saudade dos tempos em que você pegava na minha mão e me levava pro circo, saudade das nossas risadas. não me deixe por aqui, minha irmã! venha pra cá e me leve embora desse marasmo. tenho estado tão séria... porque não vem e me paga umas cervejas? vamos ao parque, compramos uns balões coloridos e vemos um filme no cinema. o que há com você que não me escreve mais? espero que esteja se divertindo com o pessoal antigo, porque aqui vai de mal a pior. sabe, as pessoas aqui não riem. o último sorriso que peguei foi da moça da lavanderia que achou uns trocados no bolso da calça do velho rabujento da esquina. então? vai me deixar mofar por aqui? tenho estado tão séria... vem me buscar e tomamos uns vinhos na esquina, contamos umas piadas e pronto. aqui é muito ruim, pô. vê se traz uns fumos também. aqui tá difícil de plantar. porque você não veio, menina? se você não vier, daqui a uns dias apareço no jornal como suicida, você duvida? traz tua bicicleta e vamos dar umas voltas. vamos ganhar o mundo e rir de tudo? tenho estado tão séria...

baseada em sentimentos reais,
"cômica tragicrônica" para Cacá.

quinta-feira, 18 de março de 2010

sob pressão

de um lado a tentativa incessante de convencer personagens do falacioso teatro do qual fazem parte, mostrando-lhes que a TV que vêem não é colorida e, sim, preto e branca, tentando apresentar-lhes a mentira que é a vida e o preço que se tem de pagar para viver. do outro a constante sensação de ter que provar um mérito que talvez eu nem tenha para os próximos dos quais escohi aproximar-me, mas que não são mais próximos porque a proximidade sempre me causou ódio. porque não suporto as imperfeições e agonizo enquanto não lhes apontar, transformando seus pecados em minha histeria. do outro lado, do meu corpo, tenho o sexo que se recusa a despir-se enquanto o sol não nascer e todas as cortinas das janelas alheias não caírem, suportando a dor nos olhos que me dá quando acendem as luzes artificiais e o aperto no peito que me causam suas mãos entorpecentes. agora sou mais sentimento do que razão e sinto todo o cansaço que meus ombros, enterrados abaixo de montanhas de medo e de força, podem sentir.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

já fui idiota


há quem diga que a palavra "livro" significa exatamente algo do qual você se "livra" depois que escreve. eu, por exemplo, sempre vou me irritar com o que escrevo. pode ser logo que termino de escrever e pode ser depois de dois anos - como estou detestando agora as coisas que escrevi nesse blog ridículo - mas eu sempre vou me irritar. ainda bem, né? pior seria se eu ainda gostasse dessas baboseiras que escrevi há um tempo atrás. isso significa que, no mínimo, meu senso estético e minhas idéias mudaram (ou não). eu diria que os textos antigos são muito ruins. e que os textos recentes, minha nossa, também são muito ruins. caralho, que merda é essa que eu tou escrevendo aqui?