domingo, 5 de dezembro de 2010

até a revolução, beibe

chegou a hora, moço
de dizer
adeus você
espero que você seja feliz
que você viva o que tem de viver

que surja o reino da paz
e que eu siga
como estava seguindo
minha estrada

estava viajando (sempre estou)
só parei um pouquinho
encontrei um rapaz bonito no caminho

cumprimentei-o, trocamos estórias, sorrimos
e eu volto à caminhada
o mundo me aguarda

e que nossa história fique na lembrança
com carinho
será o nosso segredinho

que você se lembre dos nossos passeios
de bike, de bus, de reboque e de carro
nossas descobertas
nossas discussões políticas
nossas piadas internas
e alguns abraços nas esquinas

nossos corpos juntos

calor, cheiro, beijo, desejo
meu deus, que desejo

foi divertido
avassalador
e impulsivo

que fique na memória
a história
incompleta, concreta e complexa
do primeiro e único romance da pós-modernidade
entre dois subcomandantes

adeus, companheiro,
bom e velho militante

de sua amante
um beijo

terça-feira, 25 de maio de 2010

correspondência

ai, cacá... tenho estado tão séria, minha amiga. o mundo fez isso comigo, moça. há um tempo que não dou gargalhadas. desde que cheguei aqui na capital que a vida me ferrou, pra não dizer o trânsito e as provas da faculdade. saudade dos tempos em que você pegava na minha mão e me levava pro circo, saudade das nossas risadas. não me deixe por aqui, minha irmã! venha pra cá e me leve embora desse marasmo. tenho estado tão séria... porque não vem e me paga umas cervejas? vamos ao parque, compramos uns balões coloridos e vemos um filme no cinema. o que há com você que não me escreve mais? espero que esteja se divertindo com o pessoal antigo, porque aqui vai de mal a pior. sabe, as pessoas aqui não riem. o último sorriso que peguei foi da moça da lavanderia que achou uns trocados no bolso da calça do velho rabujento da esquina. então? vai me deixar mofar por aqui? tenho estado tão séria... vem me buscar e tomamos uns vinhos na esquina, contamos umas piadas e pronto. aqui é muito ruim, pô. vê se traz uns fumos também. aqui tá difícil de plantar. porque você não veio, menina? se você não vier, daqui a uns dias apareço no jornal como suicida, você duvida? traz tua bicicleta e vamos dar umas voltas. vamos ganhar o mundo e rir de tudo? tenho estado tão séria...

baseada em sentimentos reais,
"cômica tragicrônica" para Cacá.

quinta-feira, 18 de março de 2010

sob pressão

de um lado a tentativa incessante de convencer personagens do falacioso teatro do qual fazem parte, mostrando-lhes que a TV que vêem não é colorida e, sim, preto e branca, tentando apresentar-lhes a mentira que é a vida e o preço que se tem de pagar para viver. do outro a constante sensação de ter que provar um mérito que talvez eu nem tenha para os próximos dos quais escohi aproximar-me, mas que não são mais próximos porque a proximidade sempre me causou ódio. porque não suporto as imperfeições e agonizo enquanto não lhes apontar, transformando seus pecados em minha histeria. do outro lado, do meu corpo, tenho o sexo que se recusa a despir-se enquanto o sol não nascer e todas as cortinas das janelas alheias não caírem, suportando a dor nos olhos que me dá quando acendem as luzes artificiais e o aperto no peito que me causam suas mãos entorpecentes. agora sou mais sentimento do que razão e sinto todo o cansaço que meus ombros, enterrados abaixo de montanhas de medo e de força, podem sentir.