terça-feira, 1 de dezembro de 2009

já fui idiota


há quem diga que a palavra "livro" significa exatamente algo do qual você se "livra" depois que escreve. eu, por exemplo, sempre vou me irritar com o que escrevo. pode ser logo que termino de escrever e pode ser depois de dois anos - como estou detestando agora as coisas que escrevi nesse blog ridículo - mas eu sempre vou me irritar. ainda bem, né? pior seria se eu ainda gostasse dessas baboseiras que escrevi há um tempo atrás. isso significa que, no mínimo, meu senso estético e minhas idéias mudaram (ou não). eu diria que os textos antigos são muito ruins. e que os textos recentes, minha nossa, também são muito ruins. caralho, que merda é essa que eu tou escrevendo aqui?
 

terça-feira, 10 de novembro de 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

instituição




na minha vida, preciso armar bem as estruturas, colocá-las firmes e seguras, pois sou um ser altamente volúvel, fujo fácil da instituição, mesmo que eu, outrora, já a tenha virado ao avesso; mesmo aquelas as quais eu própria subverti.


a cultura cria as instituições e as instituições sustentam a cultura.



terça-feira, 6 de outubro de 2009

tempestuosa




prefiro a melancolia das tuas mãos inquietas sem saber onde repousarem. se é no bolso da calça, ou no copo descartável de cerveja que você insiste em usar, eu não sei. só sei que permanecem inquietas, exalando um fogo infernal, coisa de gente que não nasceu pra ir pra igreja. gente sem regras, mesmo. eu, por exemplo, tenho a certeza de que detesto a igreja mais do que você. mas, oras, eu já fui cristã. coisa de gente que tem regras. você, não. me impressiona e admira. me preocupa, de fato. essa tua angústia incessante, tua alma carente do que não se sabe nunca. o que diabos essa menina tem? olhos pequenos, voltados para baixo, meio triste, mas ainda com um sorriso de menina desabrochada que acabou de sair da adolescência. tão pequena e frágil, pele de boneca, rosto angelical, mas com o inferno dentro de si. o inferno, pessoal, não se enganem, mora dentro daquela menina. o inferno e todos os pecados que um carnaval pode ter. toda a obsessão e compulsão que a pós-modernidade oferece. ninguém como eu para te entender, moça. já fui anjo e já fui cão também. prefiro essa tua doidice inquietante e interessante do que a normalidade dos que nunca sofrem. mas quando estiver no auge da tua agonia insana, deita aqui no meu colo velho e rabugento, meio ineficiente, eu sei, mas que promete nunca deixar de te entender.

para Ludmila, a Gordinha, meu xodó.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

sim, eu estou viva


questionar os próprios valores, os paradigmas que norteiam nossas ações e, por conseguinte, a vida que se tem é um exercício de honestidade e crescimento. não são todas as pessoas que escolhem entrar nessa busca, pois isso nos obriga a deparar-nos com nossas próprias limitações. aliás, as pessoas que costumam fazer isso diariamente são cotidianamente propensas a uma grande desconstrução interna, não precisam escolher entrar nesse caminho, elas dormem e acordam com a idéia de que o grande dia da mudança está chegando, seja lá qual for a mudança, ela sempre vai chegar e mais de uma vez. de repente, a invalidez de idéias antigas toma conta do juízo e o sujeito é invadido por uma chuva de auto-reprovações, talvez contra sua própria vontade imediata, e então sofre. mas lá atrás ele decidiu correr esse risco. esse é o risco que, no fundo, escolhemos na tentativa de ficarmos mais próximos da nossa essência. pessoas inteligentes se permitem sofrer. mas existem aquelas que pautaram suas vidas sempre em fundamentos superficiais e momentos de "revisão" (como esse em que você se encontra) nunca chegam, não têm espaço pra isso. é quando a forma aprisiona o conteúdo. alguns limites existem para serem transpostos, pois quanto mais reflexão e mais vontade de questionar as próprias estruturas, mais íntegros serão nossos princípios. escutar você dizendo que minha presença desencadeou tudo isso em você faz-me sentir MUITO VIVA. significa que carrego em mim esse movimento veloz e por isso ando exalando energias transformadoras que ao entrar em contato com outros seres viram combustíveis potentes capazes de girar a engrenagem da vida, pois, pra mim, vida é isso: constante mudança, ressignificação. obrigada por me fazer sentir-me viva.

para Eduardo.

sábado, 8 de agosto de 2009

eu sou imoral

deixo a minha inabilidade em lidar com pessoas comuns para elas. não tenho paciência para propagandas-do-eu, por isso assumo: eu detesto vocês e o mundo. outro dia meu irmão chamou-me na mesa da cozinha para dizer que estava me achando doida. eu disse que foi o melhor elogio que ele me deu nos últimos três anos. a minha loucura tem mais razão que a sua lucidez, animal! peço licença para ser intolerante. sou intolerante com a intolerância. agora inventaram de me colocar dentro desse mundo distorcido e repugnante que as pessoas costumam chamar de trabalho. aaah, coitados, seria mais "produtivo" me deixar em casa, não adianta, eu não vou parar de questionar até ser posta pra fora. mas antes disso eu tento quebrar a mesa do chefe. um belo dia resolvi sonhar e foquei lá na frente, no horizonte, bem bonito. não esperava me deparar com a minha incapacidade de lidar com os lados. mas para quê lados se se tem um horizonte infinito? acontece que eu ando construindo um castelo e vem um medo de ele desabar. tanta coisa já desabou nessa vida. certa vez um senhor de barbas me disse que todos os castelos desabam, mas, se tiver alma, está só trocando de pele. e não ousem vir me dar "liçãozinha de vida" quando o muro estiver no chão. leiam seus livros de auto-ajuda, redijam seus artigos e assistam suas novelas, mas não levem embora o muro e a tinta pra eu pixar. faz tempo que a minha sexualidade não se resume à minha genitália. faz tempo que o mundo é mundo e todo mundo faz sexo. mas ninguém quer dar uma esmola, pô! ninguém quer lavar o próprio prato, mas todo mundo quer comer. perdoem-me, desse jeito eu não como ninguém. vou morrer solteira, sem filho, sem religião e sem carro. e reservo a caretice do meu velório ao padre pedófilo da esquina.


(deixo a minha inabilidade em lidar com pessoas comuns para elas, somente para elas)

terça-feira, 28 de julho de 2009

um sonho

acordou às dez, meio de repente, e logo tentou lembrar do sonho que acabara de ter. numa manhã nublada de domingo, o céu branco, estava bonito o dia. sim, era com ele que ela tinha sonhado. havia escrito para ele antes de dormir, deve ter sido isso. sonhou que voltara à sua casa, mas, como em todos os sonhos, a casa não era a mesma. voltara à casa dele, com cabelos curtos e uma mochila nas costas. de fato, ela cortou os cabelos no sábado, mas não ficou muito bom. ele a recebera com sorrisos, um abraço longo, e alguns beijos na superfície dos lábios - só dos lábios. passavam pelo portão e entravam num quarto para ficarem sozinhos e ela logo pôs-se a perguntar "sua mãe vem aqui?" e ele disse "quase nunca". mas ela veio. não sei por quê, mas veio.

depois de muito conversarem, ele passou um momento parado, pensando, meio indiferente a tudo, igual como ele fez naquela noite em que foram assaltados, quando ela passou uma semana em sua casa. ela nunca vai esquecer daquela semana que passaram juntos, sem que suas mães soubessem e que a fez catar seus cabelos espalhados pela casa, antes de partir, para que sua mãe, que tem mania de limpeza, não percebesse que ela esteve ali. e ele sempre monitorando os pratos que eram lavados e os pingos que caíam no chão, ele realmente tinha herdado um pouco de sua mãe. a praia, o picolé redondo de coco, o vinho, as muitas fotos tiradas.


foi muito divertido brincarem como meninos - sim, meninos - pequenos e conversarem como gente grande sobre linguística e sociologia. foi uma paixão bonita, uma grande descoberta do outro lado do mundo, vontade de ficar junto, quem sabe de construir outro mundo juntos. a sensação de chegar na casa de um quase desconhecido e colocar suas malas no canto da parede era meio estranha. o que diabos estava fazendo ali? estava se arriscando demais. arriscou-se a amar. foi por isso que derrubou seu violão no chão quando chegou, estava meio atrapalhada, meio nervosa. e amou.


amou por uns dias, o que foi suficiente para ficar por um tempo depois que partiu, mas que sobreviveu até os limites do tempo e do espaço. a lembrança ficou, a saudade, a vontade de voltar um dia, como aconteceu no sonho.

para Vinicius.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

oração pela clareza

existem algumas poucas coisas que me fazem ter medo de ficar adulta. quase sempre elas têm a ver com dinheiro e trabalho. mas o que tem me causado medo, mesmo, ultimamente, é a possibilidade de perder a clareza das coisas. é que nós temos esse poder de nos tornarmos idiotas. eu conheço adultos medíocres, adultos que se viram dentro de situações terríveis que, por erro ou inocência, eles próprios as escolheram e, por não suportarem conviver com essa escolha, acabaram por amputarem a própria consciência e percepção para se sentirem menos desconfortáveis. amputaram a própria liberdade, pois quanto menos consciência, menos liberdade. e uma vez adotando a ausência de criticidade, adeus: é mais fácil afundar nessa alienação confortante do que estimular a reflexão.

conheço adultos que escolheram a pouca consciência por não terem honestidade suficiente para se depararem com as próprias falhas ou situações que pedem esforço. como um indivíduo que defende o sistema capitalista como o mais coerente, mas a verdade é que ele sabe que nunca terá coragem de dividir seus bens. este indivíduo, então, vai aos poucos convencendo-se de sua pseudo-razão por ser incapaz de reconhecer suas limitações até que, um dia, olha a pobreza do mundo e põe a culpa no governo (ou no diabo). sim, eu descobri que alienação também pode ser uma escolha racional. mas também conheço adultos que foram subjulgados a situações tão opressoras, contra as quais não podiam lutar, que naturalmente foram tomados pela falta de clareza para amenizar o sofrimento. estes, lamento, merecem a minha compaixão.

é por isso que muitos dos grandes pensadores que a humanidade teve morreram loucos ou depressivos pois tamanho era o aprofundamento da reflexão e conhecimento do mundo feio como ele é, que suas mentes renunciaram à sanidade. não é fácil ser lúcido nesse mundo, é preciso ter muita coragem. tanto existem aqueles que optam declaradamente pela não-consciência para terem uma vida mais conveniente, como aqueles que por tanto pensarem, ficam cansados e suas mentes se tornam omissas ao real. os primeiros são os medíocres, os segundos são os loucos. estes últimos, evidentemente, merecem a minha admiração.

é, portanto, que faço a minha oração pela clareza todos os dias, exercito-a, tenho medo de perdê-la. faço questão de enxergar as coisas com o máximo de clareza possível para não correr o risco de entrar em algum buraco sem perceber e nunca mais sair. observo, analiso, concluo, reflito, desconstruo, concluo de novo, repenso, desfaço, re-significo, mesmo que no fim não sobre nada. espero que a vida não me ponha uma situação opressora o suficiente que me faça abdicar da minha consciência para sofrer menos. não, isso seria triste demais. e espero também saber a hora de parar, para não morrer louca - se bem que prefiro a loucura ao risco de mediocridade.

ou será que já estou louca? ou sofro demais para ser alguém consciente e nem tenho consciência disso? ou, então, escrevo esse texto no auge da minha mediocridade? será que um dia escolhi a alienação e desde então tudo o que fiz foi aprofundar-me nela? e essas idiotices que escrevo são o ápice da minha tentativa de auto-convencimento de uma pseudo-razão que diz que sou alguém lúcido, mas tudo não passa de uma imensa falta de coragem de me deparar com minha terrível estupidez? não sei, vou refletir sobre isso...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Um brinde

não sei, não sei... não sei se sou capaz de escrever algo à altura do que me traz aqui. o motivo é grande demais para meu pobre talento literário, apesar de ter ouvido de você que "eu resolvo o problema das palavras", como se elas carregassem um problema em si e eu tivesse a incrível habilidade de resolvê-lo. será? ah, meu caro amigo ticiano... você, como sempre, me colocando pra cima, velho. como nas vezes em que me encontro mergulhada no tédio-nosso-de-cada-dia, aí pego o celular e "tici, tás em casa? tou chegando aí". ou às 2h da madrugada do sábado, meu celular toca: "carlinha, desce, tou passando aí". e o pôr-do-sol da gente, lembra? as noites de violão, eu pedindo pra tu tocar Hero ou The Corrs. sem falar na tamanha honra de um dia eu ter te ensinado a música de Cranberries no violão, meu deus, como pode? logo tu que não toca: destrói. eu já disse que quando eu morrer quero que escrevam na minha tumba que eu te ensinei uma música? tá, convenhamos, não ensinei. apenas te passei os acordes antes que tu parasse pra pensar na música e os identificasse, o que não demandaria muito do teu esforço. mas não importa.

eu gosto de tá perto de tu, po. tu com teu violão, tua cara de sofrimento cantando, ou mordendo a língua quando tá amanhecendo e o sono chegou. sei lá, tici. é muita coisa pra escrever aqui. mas eu posso tentar. eu com 14 anos: resolvi entrar no teu grupo do trabalho de português só pra conhecer o menino que tinha o tênis igual ao meu no colégio. me apaixonei, claro, tu era o único que filosofava comigo naquele lugar idiota. acabei te conquistando, palhaço. mas uma história de dois pré-adolescentes tinha que dar merda. lá se foi mais de um ano intrigados. bizarro. até que um dia, acho que nossas almas sabiam mais do que nós o quanto a gente não podia ficar longe um do outro. voltaram as conversas filosóficas depois de uma ligação repentina quando eu tava namorando, né (safado)? bom, aí tu já era maior de idade, já sabia o que tava fazendo, hehe.

foi quando tu começou a namorar com minha amiga e de lá pra cá a gente construiu uma relação tão singular que, ao arriscar descrevê-la, posso acabar diminuindo-a. você, provavelmente tem outras amizades mais sinceras que a nossa, com seus amigos homens. mas eu, não. porque sou mulher e mulheres não sabem cultivar amizades tão sinceras quanto os homens. elas sabem ser mais próximas e mais confidentes umas com as outras, mas sinceras não. quando falo de sinceridade, me refiro à liberdade de falar tudo o que se pensa sobre a relação, de falar do que não gosta e de mandar se foder. acho que é só contigo que consigo ter uma amizade assim, ao contrário de você. eu detesto mulheres, ao contrário de você também.

e como é bom dar risada contigo, ticibacon. não preciso ficar enchendo tua bola aqui, dizendo que tu tem uma criatividade filha da puta na fala, tu sabe disso, tu sabe o quanto eu me divirto com tuas frases eloqüentes. eu adoro tuas piadinhas eróticas, tuas risadas irônicas, adoro quando tu me decepciona, eu te mando tomar no cu e logo tu diz “eu sou um idiota, me perdoa?” porque tu sabe que eu te perdôo sempre. adoro o carlotxotxoca com o qual tu me apelidou, adoro cantar nas alturas Lucky Man contigo no carro, adoro tua capacidade incessante de me entender, tua habilidade de sacar teorias sociológicas que eu precisei de uma faculdade pra aprender e tu só precisou de uma conversa em mesa de bar. adoro tua alegria em me ver, adoro tua sinceridade exacerbada comigo e tua coragem inoportuna.

eu te adoro, tici. e se dizem que o amor é coisa de deus, ele vai passar a ser coisa do cão agora, porque eu acho que te amo. tá, eu sei que esse negócio de "pra sempre" não combina comigo, mas tu é uma das pessoas pra quem eu me arrisco a dizer que dá vontade de colocar na mochila e levar comigo pra onde eu for nessa vida. essas nossas conversas que fazem surgir uma espécie de operacionalização de idéias na qual o universo dos conceitos e das coisas nomeadas se torna muito mais explicável e passa a fazer parte do nosso domínio racional, criando um encadeamento de significações e conclusões sequenciais, como se não houvesse barreiras filosóficas entre nossas mentes, isso eu não quero perder. e se os deuses quiserem, a gente vai comemorar muitos dos teus aniversários ainda. um brinde aos teus 22 anos, meu bem. um brinde aos últimos 7 dos quais eu fiz parte e um brinde aos próximos que virão. feliz aniversário.


famoso ou não, sou declaradamente tua fã.

um grande beijo,
txotxoca.


26/05/2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

o fio que fala

alô
quem é?
não desliga
sou eu
atende
me liga
cacete
esse fio
que fala
e prende
preenche
esvazia
o corpo
a mente
agonia

sábado, 18 de abril de 2009

crise existencial aos 21










- onde foram parar minhas bonecas???

sexta-feira, 10 de abril de 2009

uma raposa pousou em meu cabelo




durante a aula, um desconhecido que sentava atrás mexeu nos meus cabelos. me virei e perguntei:
- o que foi?
- uma borboleta pousou no teu cabelo.
- borboleta?
- foi...
- poxa, eu quase nunca vejo uma borboleta, ela pousou em mim e vc tirou?
- ela ia acabar morrendo eninhada...
- tá. mas não foi uma raposa não?
- raposa?!
- é!
- não seria mariposa?
(30 minutos rindo na frente do professor de ciência política)

sábado, 14 de março de 2009

mudar o mundo




antes de eu nascer, eu disse a deus que tinha pressa de vir ao mundo, mas que só viria com a condição de que eu pudesse mudá-lo. ele fechou os olhos, respirou fundo e disse-me que seria uma tarefa muito difícil.


não sei por que diabos eu insisti nisso.