segunda-feira, 25 de maio de 2009

Um brinde

não sei, não sei... não sei se sou capaz de escrever algo à altura do que me traz aqui. o motivo é grande demais para meu pobre talento literário, apesar de ter ouvido de você que "eu resolvo o problema das palavras", como se elas carregassem um problema em si e eu tivesse a incrível habilidade de resolvê-lo. será? ah, meu caro amigo ticiano... você, como sempre, me colocando pra cima, velho. como nas vezes em que me encontro mergulhada no tédio-nosso-de-cada-dia, aí pego o celular e "tici, tás em casa? tou chegando aí". ou às 2h da madrugada do sábado, meu celular toca: "carlinha, desce, tou passando aí". e o pôr-do-sol da gente, lembra? as noites de violão, eu pedindo pra tu tocar Hero ou The Corrs. sem falar na tamanha honra de um dia eu ter te ensinado a música de Cranberries no violão, meu deus, como pode? logo tu que não toca: destrói. eu já disse que quando eu morrer quero que escrevam na minha tumba que eu te ensinei uma música? tá, convenhamos, não ensinei. apenas te passei os acordes antes que tu parasse pra pensar na música e os identificasse, o que não demandaria muito do teu esforço. mas não importa.

eu gosto de tá perto de tu, po. tu com teu violão, tua cara de sofrimento cantando, ou mordendo a língua quando tá amanhecendo e o sono chegou. sei lá, tici. é muita coisa pra escrever aqui. mas eu posso tentar. eu com 14 anos: resolvi entrar no teu grupo do trabalho de português só pra conhecer o menino que tinha o tênis igual ao meu no colégio. me apaixonei, claro, tu era o único que filosofava comigo naquele lugar idiota. acabei te conquistando, palhaço. mas uma história de dois pré-adolescentes tinha que dar merda. lá se foi mais de um ano intrigados. bizarro. até que um dia, acho que nossas almas sabiam mais do que nós o quanto a gente não podia ficar longe um do outro. voltaram as conversas filosóficas depois de uma ligação repentina quando eu tava namorando, né (safado)? bom, aí tu já era maior de idade, já sabia o que tava fazendo, hehe.

foi quando tu começou a namorar com minha amiga e de lá pra cá a gente construiu uma relação tão singular que, ao arriscar descrevê-la, posso acabar diminuindo-a. você, provavelmente tem outras amizades mais sinceras que a nossa, com seus amigos homens. mas eu, não. porque sou mulher e mulheres não sabem cultivar amizades tão sinceras quanto os homens. elas sabem ser mais próximas e mais confidentes umas com as outras, mas sinceras não. quando falo de sinceridade, me refiro à liberdade de falar tudo o que se pensa sobre a relação, de falar do que não gosta e de mandar se foder. acho que é só contigo que consigo ter uma amizade assim, ao contrário de você. eu detesto mulheres, ao contrário de você também.

e como é bom dar risada contigo, ticibacon. não preciso ficar enchendo tua bola aqui, dizendo que tu tem uma criatividade filha da puta na fala, tu sabe disso, tu sabe o quanto eu me divirto com tuas frases eloqüentes. eu adoro tuas piadinhas eróticas, tuas risadas irônicas, adoro quando tu me decepciona, eu te mando tomar no cu e logo tu diz “eu sou um idiota, me perdoa?” porque tu sabe que eu te perdôo sempre. adoro o carlotxotxoca com o qual tu me apelidou, adoro cantar nas alturas Lucky Man contigo no carro, adoro tua capacidade incessante de me entender, tua habilidade de sacar teorias sociológicas que eu precisei de uma faculdade pra aprender e tu só precisou de uma conversa em mesa de bar. adoro tua alegria em me ver, adoro tua sinceridade exacerbada comigo e tua coragem inoportuna.

eu te adoro, tici. e se dizem que o amor é coisa de deus, ele vai passar a ser coisa do cão agora, porque eu acho que te amo. tá, eu sei que esse negócio de "pra sempre" não combina comigo, mas tu é uma das pessoas pra quem eu me arrisco a dizer que dá vontade de colocar na mochila e levar comigo pra onde eu for nessa vida. essas nossas conversas que fazem surgir uma espécie de operacionalização de idéias na qual o universo dos conceitos e das coisas nomeadas se torna muito mais explicável e passa a fazer parte do nosso domínio racional, criando um encadeamento de significações e conclusões sequenciais, como se não houvesse barreiras filosóficas entre nossas mentes, isso eu não quero perder. e se os deuses quiserem, a gente vai comemorar muitos dos teus aniversários ainda. um brinde aos teus 22 anos, meu bem. um brinde aos últimos 7 dos quais eu fiz parte e um brinde aos próximos que virão. feliz aniversário.


famoso ou não, sou declaradamente tua fã.

um grande beijo,
txotxoca.


26/05/2009

3 comentários:

Ticiano S. Menezes disse...

Tu é um ser muito familiar a mim,
Carlinha. Desde de que eu nasci
ouço nossas conversas, brinco do
jeito que brincamos, te vejo em
momentos de alegria muito antes de
nos conhecermos. Saber que tu é
Carla, essa menina tão singular, me
soa tão natural que me conforta a
alma, me da a certeza de que exis-
tem coisas boas e certas nesse
mundo.

Obrigado por ter escrevido tão
lindamente sobre nós e por me da
sentido. Quero que você esteja
comigo no dia em que minha vida
se esvair.

Mais uma vez, obrigado

Cleonardo Mauricio disse...

Puta que pariu!!! que negócio lindo!!!

Marie disse...

isso tá muito bom, Carlinha! Que lindo! Resolvi passar por aqui depois de tanto tempo e tenho uma surpresa linda dessas! Essa foto tá tudo...e junto do texto me conveceu totalmente de suas palavras, e me deu uma alegria acreditar nelas, pq tudo isso parece ser raro...mui raro! beijos