deixo a minha inabilidade em lidar com pessoas comuns para elas. não tenho paciência para propagandas-do-eu, por isso assumo: eu detesto vocês e o mundo. outro dia meu irmão chamou-me na mesa da cozinha para dizer que estava me achando doida. eu disse que foi o melhor elogio que ele me deu nos últimos três anos. a minha loucura tem mais razão que a sua lucidez, animal! peço licença para ser intolerante. sou intolerante com a intolerância. agora inventaram de me colocar dentro desse mundo distorcido e repugnante que as pessoas costumam chamar de trabalho. aaah, coitados, seria mais "produtivo" me deixar em casa, não adianta, eu não vou parar de questionar até ser posta pra fora. mas antes disso eu tento quebrar a mesa do chefe. um belo dia resolvi sonhar e foquei lá na frente, no horizonte, bem bonito. não esperava me deparar com a minha incapacidade de lidar com os lados. mas para quê lados se se tem um horizonte infinito? acontece que eu ando construindo um castelo e vem um medo de ele desabar. tanta coisa já desabou nessa vida. certa vez um senhor de barbas me disse que todos os castelos desabam, mas, se tiver alma, está só trocando de pele. e não ousem vir me dar "liçãozinha de vida" quando o muro estiver no chão. leiam seus livros de auto-ajuda, redijam seus artigos e assistam suas novelas, mas não levem embora o muro e a tinta pra eu pixar. faz tempo que a minha sexualidade não se resume à minha genitália. faz tempo que o mundo é mundo e todo mundo faz sexo. mas ninguém quer dar uma esmola, pô! ninguém quer lavar o próprio prato, mas todo mundo quer comer. perdoem-me, desse jeito eu não como ninguém. vou morrer solteira, sem filho, sem religião e sem carro. e reservo a caretice do meu velório ao padre pedófilo da esquina.
(deixo a minha inabilidade em lidar com pessoas comuns para elas, somente para elas)
(deixo a minha inabilidade em lidar com pessoas comuns para elas, somente para elas)